20 Maio - Somewhere - Algures


Título original: Somewhere

De: Sofia Coppola

Com: Stephen Dorff, Elle Fanning
Género: Drama, Comédia
Classificação: M/12
Origem: ITA/FRA/EUA/JAP
Ano: 2010
Cores, 95 min
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Johnny Marco (Stephen Dorff) é uma típica estrela de cinema de Hollywood: vive no Chateau Marmont, um luxuoso hotel em Los Angeles, tem um carro topo de gama, mulheres belíssimas à sua volta e uma vida cheia de glamour. Até a ex-mulher deixar ao seu cuidado, e por tempo indeterminado, Cleo, a sua filha de 11 anos (Elle Fanning, irmã mais nova de Dakota Fanning). Este reencontro com a menina que, apesar da idade, demonstra uma grande maturidade, vai ser um momento de viragem para Johnny que sente necessidade de repensar a forma como tem vivido a sua vida. Com argumento e realização de Sofia Coppola ("Lost in Translation"), "Somewhere" foi o filme vencedor da 67ª edição da Mostra Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza.

Jorge Mourinha, in PÚBLICO
"Algures" não traz nada de novo ao cinema de Sofia Coppola, mas os seus segredos não se revelam imediatamente
Ponto prévio: não se venha a "Algures" à espera de "Lost in Translation nº 2". As expectativas são inevitáveis - queremos sempre regressar ao lugar onde fomos felizes... - mas é tarefa vã: por natureza, um momento de graça é irrepetível.
O engenho de Sofia Coppola em "Algures" é precisamente esse: dramatizar a repetição. Mostrar o que acontece quando esses momentos de felicidade se tornam num parque de diversões permanente, e se perde a noção do tempo, da realidade. "Algures" é a história de alguém que chegou onde queria e percebeu que, afinal, não era aquilo que queria.
Sim, é (outra vez) um filme sobre o nada, sobre o vazio de uma existência perfeita. Sim, é Sofia outra vez a fazer um filme de menina rica sobre meninos ricos que não sabem o que querem da vida. Podia ser a versão actualizada da "História de Nova Iorque" que o pai Francis filmou há vinte anos, podia ser uma versão moderna da "Marie Antoinette", menina rica perdida fora de pé. O Johnny Marco que Stephen Dorff cria aqui é isso: um rapaz fora de pé, que preenche o vazio dos seus dias de vedeta hollywoodiana com noitadas, bebedeiras, sexo fácil, tabaco. Até que a filha lhe cai nos braços e Johnny começa a perceber que há uma vida para lá da sua bolha.
Não sabemos bem se "Algures" é "adenda" aos três filmes anteriores de Coppola ou o abrir de um novo ciclo. Sabemos, isso sim, que é filme ainda mais depurado que os anteriores, onde ainda menos se passa e ainda mais fica por dizer. A fotografia solar de mestre Harris Savides, o olhar observacional sobre a fauna de Los Angeles, o modo como se parece "morder" gentilmente a mão que dá de comer, fazem do filme membro de pleno direito da turma de "regresso aos anos 1970" que se tem manifestado no mais interessante cinema americano recente. E não há nada de mal nisso - "Algures" é filme que se inscreve sem problemas numa genealogia e numa carreira. Isso não faz dele o melhor filme de Sofia Coppola - talvez porque, de facto, haja uma sensação de "rodar em seco" (que a própria cineasta comenta no plano de abertura) - mas faz dele um objecto sedutoramente intrigante, uma espécie de écrã branco onde cada um poderá projectar o que bem entender.
Não se venha aqui à espera daquilo que "Algures" não pode ser. Mas, se se deixarem os preconceitos à porta, pode-se encontrar nele muito mais do que se poderia esperar.

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