21 Maio - Invictus


Título original: Invictus

De: Clint Eastwood

Com: Morgan Freeman, Matt Damon, Tony Kgoroge
Género: Drama
Classificação: M/12
Origem: EUA
Ano: 2009
Cores, 134 min

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África do Sul, 1994. Nelson Mandela sai Presidente das primeiras eleições inter-raciais e inicia a árdua missão de sarar as feridas de 42 anos de "apartheid": as suas e as de todo um país.
Com a ajuda de François Pienaar (Matt Damon), capitão da Selecção sul-africana de râguebi, Mandela (Morgan Freeman) inspira um país inteiro, ainda consumido pela divisão entre negros e afrikaners (descendentes dos colonos europeus). Confiante que poderia pôr todos a olhar na mesma direcção, Mandela usa a equipa dos Springboks como símbolo da união nacional, levando-a até à final do Campeonato do Mundo de Râguebi de 1995. É então que, contra todas as probabilidades, África do Sul vence a partida contra a fortíssima formação da Nova Zelândia e torna-se campeã do mundo.
Uma história verídica, realizada por Clint Eastwood, que mostra como a inspiração para algo grandioso pode ser encontrada nas pequenas conquistas de um povo.


Jorge Mourinha in PÚBLICO, 26 de Janeiro de 2010
O desporto favorito dos homens
"Invictus" confirma Clint Eastwood como o último dos clássicos, mesmo que o realizador esteja num piloto automático que já não esperávamos dele
Se Clint Eastwood é - como muitos continuam a vê-lo - o último elo que nos liga a uma era quase perdida do cinema clássico americano, "Invictus" confirma sem problemas essa filiação, pegando no "filme desportivo", rito de passagem e fórmula clássica para muito realizador americano. Eastwood mantém todas as coordenadas dramáticas e inspiracionais do género, mas descentra-o do mero esforço desportivo (e da aposta nos desportos americanos que faz a maior parte dos filmes de género de interesse restrito fora dos EUA) para uma dimensão global e eminentemente política.
Adaptando um livro do jornalista John Carlin, "Invictus" segue o percurso da equipa sul-africana de râguebi na taça do mundo de 1995 e desenha o modo como Nelson Mandela, recém-eleito presidente da África do Sul (Morgan Freeman, discretíssimo), usou a modalidade, até aí identificada como o "desporto dos brancos" por oposição ao futebol, como improvável traço de união de uma nação em recobro das feridas do apartheid. Não faltam aqueles que quiseram ler em "Invictus" um desejo velado para a presidência de Barack Obama (com o qual o Mandela de Freeman, procurando reunificar um país dividido, tem muito em comum), embora se perceba que o que atraiu Eastwood nesta história foi muito mais a ideia da gravidade moral que percorre muito do seu cinema, a imagem clássica do homem que coloca o seu país e o seu ideal à frente de si próprio. E, nesse aspecto, "Invictus" segue uma linhagem bem mais clássica do que até à primeira vista poderia parecer (mais próxima dos "biopics" de estadistas que Hollywood produziu na sua era dourada).
Mas não estaremos a fazer nenhum desfavor ao realizador se dissermos que esta história sobre o perdão e a reconciliação, que Freeman insistiu com Eastwood para ser ele a realizar, corre um tudo nada num "piloto automático" que, nesta altura, já não esperávamos dele (as câmaras lentas e as baladonas de isqueiro na banda-sonora eram coisas dispensáveis), nem se dissermos que o sentimos um tudo nada constrangido pela seriedade do assunto, como se não se conseguisse libertar do peso da "história real" que lhe está na origem. Nada que a segurança e a sobriedade a que Eastwood nos habituou não ultrapasse (e não é certo que outro realizador resolvesse melhor estes problemas), mas fica a sensação de um filme que cumpre tudo o que lhe é pedido mas falha o ensaio no último minuto.

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